Andando sobre as águas
Certa
vez, Jesus mandou que seus discípulos fossem adiante dele para o outro lado do
Mar da Galiléia. Então, o Mestre despediu a multidão e foi ao monte orar
(Mateus 14.22). Em princípio, esta não seria uma situação complicada para os
12, porque alguns deles eram pescadores experientes e sabiam navegar muito bem.
Além disso, a visibilidade era boa, pois o dia ainda estava claro. Certamente,
poderiam atravessar o mar sem que Jesus estivesse com eles.
O
início da viagem parece ter sido tranqüilo. Contudo, o tempo passou e a tarde
chegou (14.23). De repente, começou uma ventania e o mar ficou bravio (14.24).
A noite caiu e eles não conseguiam chegar ao outro lado. Já estavam no meio do
mar, mas o vento contrário não os deixava avançar. Viram-se então em apuros, em
perigo, correndo risco de naufrágio e morte.
Podemos
comparar esta cena às nossas vidas ou algum momento vivido. Temos tantos alvos,
propósitos, objetivos. Queremos chegar a algum lugar, alcançar a concretização
dos nossos sonhos e projetos. No primeiro momento, pensamos que conseguiremos
sozinhos, por conta própria. Afinal, somos fortes, capazes e experientes.
Sabemos aonde vamos. Conhecemos a rota, os remos, as velas e a maré.
Entretanto, o tempo passa e a tempestade vem. A noite chega e os ventos se
tornam contrários. Os impedimentos se multiplicam e muitas forças querem nos
impelir na contramão dos nossos planos. Quando procuramos a ajuda dos nossos
amigos, vemos que todos estão no mesmo barco e na mesma dificuldade.
No
meio do mar revolto, os discípulos perderam o controle da embarcação, que era
arremessada pelas ondas de um lado para o outro. Porém, o texto nos diz que, na
quarta vigília da noite, depois das 3 horas da madrugada, Jesus foi até eles
(Mt.14.25). O Mestre não os abandonou. Vemos naquele versículo a manifestação
da misericórdia divina. Todavia, eles podem ter questionado: por quê Jesus
demorou tanto? Nossa idéia de tempo é diferente da idéia que Deus tem. Afinal,
ele vive na eternidade. Nós vivemos na ansiedade. Queremos tudo imediatamente.
Esperar é um sacrifício, principalmente para o homem moderno. Muitas vezes,
Deus não nos socorre imediatamente porque ele tem um propósito nisso. É o tempo
necessário para valorizarmos mais a sua presença, clamando pelo seu nome em
oração. Enquanto isso, esgotam-se as nossas forças, nossos recursos e nossa
auto-confiança. Somos desafiados a crer somente nele.
Jesus
vem ao encontro daqueles que estão no meio da tempestade, perdidos,
amedrontados ou até desesperados. Muitos momentos da vida se parecem com aquela
situação dos discípulos. A tormenta de cada um pode ser o conflito conjugal, a
separação, a solidão, a enfermidade, o desemprego, o aperto financeiro, a
falência, etc. Nesse momento difícil, é preciso erguer os olhos e ver Jesus
(14.26). Ele é a nossa única esperança.
Cristo
vinha andando sobre o mar, pisando sobre aquilo que os discípulos temiam. Ele é
soberano, domina sobre todas as coisas e supera todas as nossas expectativas.
Os discípulos o viram, mas não o reconheceram. Jesus então lhes disse: “Tende
bom ânimo. Sou eu. Não temais.” (14.27). Eles estavam amedrontados e
desanimados, mas o Senhor lhes trouxe a sua palavra para encorajar, erguer e
animar. Ainda hoje, este é o efeito da palavra de Deus sobre nós.
Pedro,
o mais atirado do grupo, disse a Cristo: “Senhor, se és tu, manda-me ir ter
contigo por cima das águas” (14.28). E ele lhe disse: “Vem” (14.29). Jesus veio
até nós, mas nós também precisamos ir até ele, ou seja, ele nos socorre, mas
nós precisamos crer e aceitar a sua ajuda. Não vamos esperar que ele resolva
tudo sem o nosso conhecimento ou sem a nossa participação. Pedro precisou sair
do barco e caminhar até o Mestre.
Apesar
de toda a complexidade da situação, os discípulos ainda confiavam no barco.
Precisavam confiar apenas em Jesus. O barco é aquele último recurso terreno que
nos impede de caminhar com o Senhor. Precisamos descer, renunciando àquilo que
nos prende.
Pedro
desceu, mas 11 discípulos continuaram a bordo. A maioria não foi tão longe.
Todos queriam o Mestre, mas não estavam dispostos a correr grandes riscos para
se aproximarem dele. As maiores experiências com Deus estão reservadas para
aqueles que são mais ousados. Isto não significa fazer qualquer loucura, mas apenas
atender à palavra de Deus, saindo da zona de conforto e indo além dos limites
humanos. Pedro ouviu a voz do Mestre dizendo: “Vem”. Sobre a palavra de Jesus,
Pedro depositou sua fé. Além de crer, ele também agiu. Temos então: palavra, fé
e ação. O resultado é o milagre. Aos
olhos humanos, a ação de Pedro era um suicídio, perda total, o fim. Contudo,
aquele ato de fé era o início de uma jornada extraordinária.
Jesus
não arrancou Pedro do barco. Ele precisou demonstrar o exercício de sua própria
vontade ao descer e caminhar. Era uma questão de escolha, decisão e iniciativa.
Da mesma forma, Jesus continua chamando a muitos. Ele diz: “Vem”. Ele nos chama
para uma vida sobrenatural, para andar sobre as águas. Pedro andou (14.29). Ali
aconteceu o imprevisível, improvável e impossível. Pedro encontrou segurança e
firmeza no meio da instabilidade. Se você crê em Jesus, o impossível pode
acontecer. Deus pode trazer soluções inimagináveis. Contudo, isto não se
concretiza simplesmente a partir da nossa vontade, embora possamos pedir, como
Pedro fez. O fator determinante é uma palavra de Jesus a nosso favor. Se cremos
na palavra de Deus e agimos de acordo com ela, em obediência, o sobrenatural
acontece.
Pouco
depois de descer do barco, tendo dado alguns passos sobre as águas, Pedro
começou a afundar (14.30). Por quê isso aconteceu? Está escrito que ele “sentiu
o vento forte”. O que percebemos com os sentidos físicos pode ser contrário à
fé. Para andar com Jesus não podemos depender de sentidos ou sentimentos. Vamos
sentir, ver e ouvir muitas coisas contrárias, mas a nossa fé está firmada na
palavra de Deus.
O
fato de Pedro ter começado a afundar nos mostra a fragilidade humana, até mesmo
dos grandes homens de Deus. Todos os apóstolos viram que Pedro não era
infalível nem igual a Jesus, mas dependente dele. Assim, a nossa fé não pode
depender dos servos de Deus que conhecemos hoje ou daqueles que já morreram.
Quando
começou a afundar, Pedro clamou pela ajuda de Jesus: “Senhor, salva-me”
(14.30). Não adiantaria pedir ajuda a outra pessoa. Pedro clamou ao Senhor e
foi salvo da morte. Da mesma forma, em se tratando de salvação das nossas
almas, só Jesus pode nos ajudar, pois só ele é o Salvador. Está escrito: “Todo
aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Rm.10.13).
Naquele
momento, todos os discípulos foram salvos, porque Jesus entrou no barco e o
ventou cessou. Aquela circunstância tão adversa foi útil para que eles
conhecessem um pouco mais sobre Cristo, seu poder e sua divindade (14.33).
Assim acontece conosco. Deus permite que passemos por situações difíceis para
que tenhamos novas experiências pela fé e o conheçamos um pouco mais. Teremos,
então, novos motivos para louvá-lo e adorá-lo.
O
versículo 34 nos diz que eles chegaram ao outro lado do mar. Sozinhos não conseguiriam,
mas, com Jesus no barco, a chegada é garantida. Não vamos desistir nem
naufragar. Muito além de alcançar nossos objetivos neste mundo, o mais
importante é que, com Jesus, chegaremos ao reino celestial e com ele viveremos
eternamente.
Autor: Anísio
Renato de Andrade – Bacharel em Teologia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário