segunda-feira, 9 de julho de 2012

Propósito Divino e a Liberdade Humana.


O dilema entre o propósito Divino e a liberdade humana.


Em uma dessas leituras bíblicas diárias, algo me chamou muito a atenção dentro do livro de Reis. Há um dilema existente na realização do propósito de um Deus Santo por meio do pecado humano. A história de Baasa que se encontra entre os capítulos 15 e 16 de 1 Reis, nos remete a duas intrigantes questões: Como o homem pode ser responsável por sua maldade, sendo esta determinada por Deus? E como Este continua puro, mesmo que o cumprimento de seu plano inclua a iniqüidade humana?


O relato em questão, nos mostra Baasa se tornando rei mediante uma conspiração contra o monarca Nadabe, filho de Jeroboão. Com o propósito de consolidar seu reino, Baasa destrói o restante da família de Jeroboão, fato que se dá em conformidade com palavra que o SENHOR havia anteriormente anunciado a Jeroboão por meio do profeta Aías. Após um reinado que em nada se esforça para garantir a manutenção da aliança entre o SENHOR e Israel, uma palavra dura da parte de Deus é entregue a Baasa por intermédio de Jeú. Dentre as várias acusações contra o rei, como o fato de cooperar com o povo a incitar a ira divina por meio da idolatria, Deus denuncia Baasa por destruir a família de Jeroboão. Afinal, como pode Deus condenar Baasa de algo que em primeira instância havia sido predito por Ele próprio?

O que certamente não se pode negar é o fato da narrativa, apesar do questionamento, se enquadrar perfeitamente no propósito do livro de Reis. Seguramente o texto ajuda a ressaltar a fidelidade de Deus, mesmo em meio à infidelidade humana para com a Aliança. Se por um lado Deus, sendo fiel à sua própria palavra, destrói Jeroboão e sua família, Baasa comete pecado ao matar o ungido do Senhor, uma vez que a autoridade em Israel era instituída pelo próprio Deus.

O uso da maldade humana para cumprir o propósito divino não é algo exclusivo desta passagem. Uma teologia bíblica do Antigo Testamento nos mostra essa realidade desde o começo da revelação em Gênesis até passagens cujo progresso da revelação é bem mais próximo do livro dos Reis, como no caso de Isaías. A história que relata o momento no qual José se dá a conhecer a seus irmãos, em Gênesis 45, é muito clara quanto à idéia de que acima do pecado de seus irmãos, estava a ação de Deus. O verso 4 diz que foram os irmãos de José que o venderam para o Egito. Isto, de acordo com o capítulo 37, foi promovido pelo ódio que havia em seus corações contra seu irmão mais novo. Todavia, o versículo 5, que confirma a declaração no verso anterior, também, diz que foi o próprio Deus quem o havia enviado para o Egito, a fim de salvar a vida de seus irmãos. Mais adiante, isto é reiterado (45.7) e, ainda, “... não foram vocês que me mandaram para cá, mas sim o próprio Deus.” (45.8, NVI).

No livro do profeta Isaías, podemos ver Deus usando a maldade de uma nação soberba para disciplinar o seu povo. No capítulo 10, versos 5 e 6, encontramos a afirmação de que a Assíria era a vara de Deus que Ele mesmo enviava com intuito de punir a impiedade de Israel. Logo em seguida, no versículo 7 Deus indica que a Assíria não possui consciência deste plano de Deus, pois seu intuito é destruir as nações, fruto de sua altivez (10.8-11). Em decorrência disto, Deus punirá a Assíria após concluir seu julgamento contra o povo escolhido, cujo instrumento é a própria nação que Ele punirá (10.12). Muitos outros exemplos vétero-testamentários poderiam ser dados para indicar o fato de que Deus usa a maldade humana para cumprir seus intentos perfeitos e santos. O mesmo autor de Gênesis declarou: “Ele é a Rocha, as suas obras são perfeitas e todos os seus caminhos são justos. É Deus fiel, que não comete erros; justo e reto ele é” (Dt 32.4, NVI). Assim também, Isaías escreveria cerca de setecentos anos depois: “Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos, a terra inteira está cheia da sua glória” (Is 6.3, NVI).

Essa verdade destacada em 1 Reis 15:33 - 16:7 tem especial relevância para a igreja moderna, pois nos ensina que Deus usa o mal na vida de Seu povo com propósito sábio e soberano. No texto em questão, seu propósito era disciplinar a família de Jeroboão. Da mesma forma, Deus pode estabelecer instrumentos de disciplina para nos corrigir, ainda que a motivação deste instrumento seja errada. Cabe a nós clamar por sabedoria a Deus, a fim de que enxerguemos o que Ele quer mudar em nós, ao invés de só perceber a maldade que se encontra no intento daqueles que Deus usa para nos repreender.

Fonte: Filipe Abdalla T. Neto e Tiago Abdalla T. Neto

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